terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sem tesão não há solução - By Roberto Freire

Andava eu, há anos atrás, com um grupo de “pseudo-anarquistas”- chamo-os assim ,pois, por mais que se identificassem com a teoria política, na prática de suas vidas cotidianas obviamente estavam “corrompidos” pelo capitalismo- e ouvi uma menina falar: como diz Freire, “Sem tesão não há solução”. Esse título me marcou, nunca mais me esqueci dele, e em vários momentos da minha vida quando eu achava que faltava “tesão” em alguém ou algo, eu citava ou pensava nessa frase.
Na última feira do livro, aqui em Pelotas (ou Satolep, em homenagem ao poeta e músico Vitor Ramil), numa daquelas promoções de cinco reais, encontrei em um sebo o livro e na hora pensei: é agora!
Comecei a ler e estou achando o livro divertidíssimo. Uma porque adoro ler autores que se opõem ao que estudo (tanto à psicologia quanto à psicanálise), pois me permite pensar de forma mais abrangente, outra porque ele nos trata como animais biológicos, o que é interessante e verdadeiro, e por último (até onde li) porque fala sobre a liberdade e individualidade, termo muito utilizados pelos enamorados do anarquismo.
Ele, no meu entendimento, fala que o capitalismo vende as mercadorias com rótulos de felicidade, que a religião católica e judaica tem por trás um conteúdo patológico sadomasoquista, que a psicologia é a maior das neuroses existentes...
Mas o que mais me encantou foi o fato de que ele fala que o amor é o caminho mais popular com o qual se busca felicidade, compara-o a religiosidade, pois é ingênuo por um lado e fanático por outro e que ele também se mostra incompetente e impotente para realizar os sonhos de felicidade da maioria das pessoas.
Roberto Freire cita: “(...) o homem tenta sobreviver a qualquer custo, mesmo que não haja mais qualidade alguma e sentido nenhum em sua vida. Julgo que isso só possa ser explicado pela louca e vã esperança que o ser humano alimenta em relação ao poder do amor.”
Mais adiante, traz o uso do amor como poder, pois pela chantagem amorosa, pela sedução, podemos reprimir, castrar e até matar as pessoas, apenas com ameaças de retirada e com a perversão do nosso amor. Mas sempre será catastrófico, segundo ele, o resultado da utilização do poder político autoritário, pois este destruirá o próprio amor.
Essa concepção de amor como algo que pode não ser libertário, fez –me recordar dos textos do filósofo Eric Fromm, em “A arte de amar”, que traz: “O que a maioria dos de nossa cultura considera ser amável é, essencialmente, uma mistura de ser popular e possuir atração sexual’, diz que o homem busca amar para fugir da solidão e pelo medo da separação.
“O desejo de fusão interpessoal é o mais poderoso anseio do homem. É a paixão mais fundamental, é a força que conserva juntos a raça humana, clã, a família, a sociedade. O fracasso em realizá-la significa loucura ou destruição – autodestruição ou destruição de outros” (Eric Fromm). O amor-fusão seria , para Fromm, uma forma enganosa de amar, uma ilusão, pois exclui toda a humanidade, contrário ao amor fraterno, que não exclui o amor dos outros.
"As pessoas, em sua maioria, ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas, quando na verdade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas." (Os quatro Vínculos - David E. Zimerman).
Freire, assim, fala sobre as ideologias que nascem das pessoas incapacitadas para qualquer tipo de ação livre e que já se submeteram a uma vida de incompetências e de impotência orgástica vital. Ele diz, então, que falta tesão na vida da maioria das pessoas( tesão, para ele, é significar hoje o que sentimos sensualizando juntos a beleza e a alegria em cada coisa com a qual entramos em contato e com a qual nos comunicamos) e fala que seus princípios básicos são: a necessidade de busca simultânea da liberdade individual e coletiva e o resgate da originalidade única das pessoas .
Quando ele encerra o capítulo 4 do livro, me dá um tesão de vir escrever sobre a autonomia dos seres, da liberdade de escolha e da riqueza em sermos o que somos e de acharmos sentido na nossa vida, motivo por que escolhi ser psicóloga e da minha frase do Nietzsche no meu convite de formatura -“O verdadeiro poder é ser o que realmente se é”.
Acredito que são textos assim que nos fazem refletir e reafirmar o desejo de sermos quem somos e não sermos levados pelo inconstante furacão inconsciente, que por tantas vezes, nos conduz por um caminho de carências e limitações dos nossos potencias.
Roberto Freire enfatiza que não podemos nos iludir, pois ninguém poderá fazer nascer alegria nos outros como não poderemos jamais sentir tesão por alguém que não seja capaz de produzir sua própria alegria e encerra com seu pensamento anarquista, que explica o modo pelo qual a liberdade individual, garantida por uma sociedade livre, pode satisfazer a necessidade biológica que temos da alegria, através da revelação da originalidade única.
“Viver nossa originalidade única deve ser, pois, a realização do tesão mais importante, aquilo que vai nos garantir o máximo de prazer, alegria e beleza, em qualquer instância ou circunstância vital. É ela também o que impediria a presença e a permanência em nós da dor provocada por coisas externas e contrárias à nossa natureza e vontade. A realização da originalidade única representaria, assim, a garantia para vivência plena tanto do nossos tesão quanto do nosso orgasmo genéticos fundamentais.”(Freire)


Ao utilizar os pensamentos de Fromm, Nietzsche e Freire procurei enfatizar a importância de cada um encontrar o tesão na sua própria existência, apesar (até mesmo) dos nossos amores, para que possamos identificar quando estes nos fazem mais livres ou nos escravizam, ao deixamos de ser quem somos.

Eyes to see


He that has eyes to see and ears to hear may convince himself that no mortal can keep a secret. If his lips are silent, he chatters with his fingertips; betrayal oozes out of him at every pore.

SIGMUND FREUD, Dora: An Analysis of a Case of Hysteria


(Freud's drawing by Salvador Dali)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (Melhor filme do mundo)



O filme conta a história de Amélie, uma menina que cresceu isolada das outras crianças. Isso porque seu pai achava que Amélie possuia uma anomalia no coração, já que este batia muito rápido durante os exames mensais que o pai fazia na menina. Na verdade, Amélie ficava nervosa com este raro contato físico com o pai. Por isso, e somente por isso, seu coração batia mais rápido que o normal. Seus pais, então, privaram Amélie de frequentar escola e ter contato com outras crianças. Sua mãe, que era professora, foi quem a alfabetizou até falecer quando Amélie ainda era menina. Sua infância solitária e a morte prematura de sua mãe influenciaram fortemente o desenvolvimento de Amélie e a forma como ela se relacionava com as pessoas e com o mundo depois de adulta.
Após sua maioridade, mudou-se do subúrbio para o bairro parisiense de Montmartre, onde começou a trabalhar como garçonete. Certo dia, encontra no banheiro de seu apartamento uma caixinha com brinquedos e figurinhas pertencentes ao antigo morador do apartamento. Decide procurá-lo e entregar o pertence ao seu dono, Dominique, anonimamente. Ao notar que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto, a moça fica impressionada e remodela sua visão do mundo.
A partir de então, Amélie se engaja na realização de pequenos gestos a fim de ajudar e tornar mais felizes as pessoas ao seu redor. Ela ganha aí um novo sentido para sua existência. Em uma destas pequenas grandes ações ela encontra um homem por quem se apaixona à primeira vista. E então seu destino muda para sempre.
Como descrito acima, esse filme fala de pequenos gestos que fazem a vida muito mais colorida e com sentido e que ele nos inspire a termos existências mais plenas de momentos de sensibilidade e de arte, além das cenas mágicas e surreais, a trilha sonora que é maaaaaravilhosa e profunda. Sério, o melhor filme que eu já vi!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A mesma mente que se abre por um lado, mantém-se fechada por outro...

Já dizia Eistein: "A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original." Pode ser que não volte ao tamanho original, mas muitas pessoas não conseguem enxergar além. Da mesma forma que o livros abrem a mente, se a leitura for sempre em cima do mesmo autor, a pessoa fica cega para outras perspectivas e novos olhares sobre um determinado assunto.
Enxergo seres muito intelectualmente desenvolvidos, aliás, eu era uma fã de grandes intelectuais, até que aprendi que o intelecto desprovido de emoção é sem graça e vazio. Algumas pessoas estudam, estudam, estudam e só enxergam o que estudam, reproduzem as teorias como um computador, com uma velocidade voraz, dominam uma área: no entanto, não conseguem se distanciar por um momento sequer da segurança do que decoraram ou acreditam, como máquinas.
Não podem ser questionadas, criticadas e a qualquer oposição tornam-se agressivas e menosprezam o outro e suas idéias.
Há bastante tempo venho lendo Freud,tentando ler sua teoria complexa, instigante e profunda. Venho estudando, fazendo análise para vivenciar a teoria e me manter de alguma forma sempre conectada ao meio psicanalítico. Por outro lado, busco ler os críticos de Freud, ou melhor, da teoria do Freud. Gosto da psicanálise, mas sei que existe a esquizoanálise com outro olhar. Gosto do Freud, mas sei que existe Jung, que também tem outra visão.
Na filosofia, existem teorias e a partir delas, existem teorias opostas, que permitem a expansão do pensamento, da criticidade e da possibilidade desse pensamento ser construído e reconstruído, numa dialática permanente.
No entanto, na maioria dos meios psicanalíticos que encontro, parece que há uma estagnação do pensamento freudiano. O mais interessante é que sou a fã número um do Freud, mas não preciso ser uma fã cega e que não consegue criticar, mesmo que seja para compreender de forma mais profunda, posteriormente.
Usa-se uma teoria que fala de bloqueios, da incapacidade de ver o outro e que traz conceitos de que o indivíduo, busca na terapia, ser cada vez mais ele mesmo. Mas o que vejo é exatamente o contrário: qualquer comentário que se afaste da comodidade dos conceitos teóricos assusta e traz à tona defesas e negações impressionantes. Dependendo de quem apresenta o assunto, questionamentos podem ser imperdoáveis e desagradáveis, participa-se mas é preciso cuidar com o que se fala.
Entra-se em um novo curso, os mais estudiosos parecem que fazem questão de mostrar o quanto sabem da teoria e os novatos que se fiquem atentos, pois qualquer comentário infeliz pode ser fatal.
Na busca de novos teóricos pós- freudianos, qualquer comparação com o "mestre" é vista como uma afronta e é acompanhada de defesas ferrenhas acima da teoria clássica, como se no entendimento teórico estivesse garantida toda a aquisição de sensibilidade e emoção que subjaz a psicanálise. Torno a pensar na importância do silêncio e seus benefícios, mas de alguma forma preciso compartilhar. Afinal, como ele dzia: "Nenhum homem é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos" . Sigmund Freud
Lendo Bion, que é de origem indiana, fiquei pensando na influência da sua descendência e na abrangência do pensamento oriental ,ao enxergar o mundo de uma forma mais ampla , em que não há tantos conceitos fechados ou definições estanques, além de privilegiar o momento presente. Além das relações com algarismos que ele estabeleceu para o aparelho psíquico...
Acredito que, quando estudamos determinada área, podemos sim, ir acrescentando conhecimentos novos- sem ter que descartar os anteriores, como se tudo tivesse sempre que ser uma antítese e não um complemento- que vai formar um todo maior e com mais sentido.
Enfim, venho dividir meu pensamento com meus amigos, para que eu mesmo não me torne uma bitolada e que possa ter coragem de confrontar minhas crenças e, se possível, transcendê-las..

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ia ba da ba dooooo

Tudo começa com um email, um orkut, um facebook, até que começam a te mandar convites de um tal de badoo.
No email, inicia-se um processo discreto e de certa forma contida, pois envia-se algo específico e normalmente com sentido para alguém que se conhece(fora vírus, emails idiotas, correntes e pessoas desconhecidas que invadem a tua caixa de entrada).
Depois,segue-se com o orkut, com o qual depara-se com a amplitude das relações virtuais e alcança-se o "perfil lotado" de 1000 amigos, o que´quer dizer que você é um "relações públicas", está no auge das amizades virtuais. Daí pessoas que são realmente importantes para você não podem "entrar" porque já está cheia a sua página, excedeu os limites tolerados pela rede e você precisa fazer um "segundo perfil", o que é um verdadeiro absurdo, na minha opinião.
Até que agora, evoluiu-se para o facebook, ou face, para os íntimos. O face é mais elitizado,a galera viaja pra fora, posta suas fotos chiquérrimas e podem compartilhar com seus amigos importados,pois os European guys estão on facebook e antes perguntávamos "Do you have orkut?" e eles respondiam:what?,hehe.
Enfim, você está lá, repensando o que faz nessas redes sociais, afinal, às vezes quer conversar com alguém no mundo virtual e não tem ninguém ali ou quer sair com um amigo no mundo real para tomar um café e não tem ninguém também. Enfim, quem são meus amigos virtuais?E os reais?
É hilário as relações que se estabelecem na maioria das vezes: você conhece alguém, troca uma idéia, não sabe nada sobre aquela pessoa e ela vem e te add.
Você conhece a amiga da amiga da amiga , com quem não tem a menor afinidade e ela te add.
Você faz um curso de culinária de uma semana e seus colegas do curso marcam uma janta, viram todos melhores amigos e se adicionam no face, vocês nunca mais se vêem, mas ficam todos lá e seu número segue aumentando.
Você tem seu ex, sua tia, a colega de trabalho que odeia e todos os colegas de aula, pois não importa se são seus amigos, se você quer ou não compartilhar suas fotos e sua vida com eles, mas está lá:300 amigos.
Aliás, ai de você se não aceitar! A pessoa é capaz de nunca mais falar com você, pois têm alguns que perguntam: você viu que te mandei o convite? Ou ainda:- vou te add.
E é isso e deu, o negócio é add e deu, não importa se vou seguir falando ou não com aquela pessoa, vá que um dia eu vá pra Santa Maria e mande um recado pra ela...
Mas essas pessoas ficam vendo o que faço, quem eu sou e deixo de ser tão apagada e anônima, mesmo que seja só na tela do meu computador.
Bem, mas o que mais me chamou atenção foi o badoo, pensei que era outro facebook, mas não...
Sexta-feira fim de tarde, chovendo, nada pra fazer, entro nessa coisa engraçada!
Quando vejo, após 2 horas online, 250 homens vieram falar comigo, meu ego nas alturas e eu me achando a mulher mais assediada do planeta terra.
Começo a falar com uma pessoa que me convida pra sair, eu já começo a analisar os tipos, pensar no que está acontecendo e como toda boa psicóloiga ,pensar em teorias sociológicas(penso nos psicopatas, nos fóbicos socias..hahaha).
Mas na medida em que os dias vão passando, cada dia mais impaciente para selecionar pessoas normais para conversar, começo a refletir sobre alguns achados meus.
Uma coisa que me chamou atenção são "os conhecidos", que me encontram com um tom surpreso e envergonhado (do tipo: te peguei na caixinha!!!) e de certa forma disfarçando, por estarem "caçando no chat de relacionamento do terra disfarçado de badoo", com fotos sensuais...hehe.
Outra coisa interessantíssima é que realmente penso que o ditado "há sempre um sapato velho para um pé torto" é muito real, pois me aparece cada figura, divertidíssimo. Mandam até poesias para a foto, pois na verdade nem sabem se sou mesmo a da foto, acho que isso não importa. Aliás, teve um que disse que eu tinha que tirar meu nome real e segui seu conselho, ele disse que é muita exposição da figura. Outro estava fazendo uma enquete e perguntou se eu sairia com um homem casado.
Bem, mas o que percebi é que há uma certa euforia nessas relações, pois parece que o grande lance-a conquista principal- é que aquele ser misterioso do badoo se trasforme em alguém do msn ou do face, pois daí vira alguém "real" no mundo "virtual", que tem mais chance de ser ela mesmo, já que no baodo tem muitos que fingem ser quem não são(como se nas relações reais isso não acontecesse).
Aliás, a pergunta clássica é: tens msn?
Mal entra-se no chat do badoo e vem cinco perguntando o msn, não entendo, se o msn é um chat e o badoo também (e nem me conhecem mesmo) que diferença faz qual o chat?Enfim, preferem não falar, pois é tanta necessidade de ser aceito no msn alheio que perde a graça conhecer, mas para que está ali afinal?Pra mim não tem sentido nenhum. Mais sem sentido é quando digo que não tenho msn e a pessoa já termina a relação,hehe, tipo:aqui não converso. Então por que entrou e chamou?
Meu nível intelectual não alcança essas respostas, parece que se a pessoa vira teu amigo de msn e de facebook se acalma e a conversa acaba, já conquistou, mas então quer dizer que a relação está estável e íntima?
Na verdade, o que me parece é que as pessoas passam a procurar compulsivamente pela pessoa perfeita a quem procuram (irreal, óbvio), aquela que vai dar o msn na mesma hora em que ele pedir e que vai sair com ele assim que ele convidar, daí tá tudo pronto, esgotam-se as possibilidades, até acabar.
Parece que quanto mais gente se conhece, mais sozinho se sente, mas o conhecer não acontece, mas o add aumenta e a ilusão de não estar só parece que impera.
Destaquei alguns fatos nos quais fiquei pensando, mas isso não quer dizer que não tenham pessoas legais, bem intencionadas, interessantes, que realmente valha a pena conhecer e que queriam algo mais sério, mas precisamos ficar atentos à variedade de pessoas que passam por esses sites.
Não sei se alguém concorda com o que escrevi, nem se tenho resposta para o que acontece com o universo cibernético dos outros, mas não pude me conter em compartilhar meus pensamentos...

domingo, 28 de agosto de 2011

Contos de Fadas

 Hoje caminhava com minha amiga Raquel pela rua e conversávamos sobre os "contos de fadas", de como eles nos influenciam e como, de certa forma, esperamos que eles aconteçam na nossa vida: a chegada do príncipe encantado, a virada de borralheira em cinderela...Além disso, esses contos, veladamente trazem conceitos de como devemos nos comportar como "donzelas", "desprotegidas" e "dependentes" de um outro que nos salve de nossa solidão e desamparo.
A partir disso, vamos criando expectativas em cima do que deveríamos ser, como agir e como conquistar os outros, mesmo que deixemos de ser nós mesmos,aliás, a maioria de nós não sabem quem realmente é.
Estou falando isso não por que eu sei exatamente quem eu sou, mas estou em busca desse encontro, de tentar decifrar meus próprios desejos, além do desejo dos outros sobre quem eu deveria ser-e isso não é nada fácil.
Fácil é ser como "todo mundo" que parece feliz externamente e fingir que sou feliz também, pois na falta de ser de hoje, parecer é o que importa.
Fácil é repetirmos os modelos que conhecemos, é nos adequarmos às profissões que nos pagam melhor mesmo que isso nos despedace.
Fácil é eu me tornar àquilo que meus pais queriam ter sido e que supostamente fará de mim um ser bem sucedido, embora não seja isso que faça brotar o verdadeiro amor..
Fácil é  ter um monte de amigos virtuais e várias pessoas com quem sair e me divertir, mesmo que quando eu estiver comigo mesmo, triste e solitário eu não tenha com quem contar.
Fácil é me vestir bem, esbanjar sucesso aos olhos dos outros, mesmo que para isso eu fique devendo pra alguém, afinal de contas, com o tempo a pessoa esquece.
Fácil é ficar com várias pessoas e não se envolver com nenhuma porque assim eu não sofro o risco de sofrer e ser rejeitado.
Ao longo da história, vemos a sociedade inteira se caracterizando de acordo com ideais e posturas que nos são incutidas tacitamente, nossa família nos massacra com mandamentos que não são falados, mas evidenciados. A televisão, a moda, a internet, somos bombardeados pelo:compre isto e seja feliz!!!Seja assim e faça sucesso!!!
A vontade de potência de Nietzsche , desse modo,seria o único fim para que o homem moderno pudesse criar para além de si mesmo. Fica cada vez mais inalcançável realizar o verdadeiro ímpeto da vida: que segundo ele, seria de superar-se a si mesma; romper a camisa de força em que foi encerrada pela civilização ocidental, guiada por valores de autoconservação a qualquer custo
Nossa sociedade atravessa um momento de vazio, de falta de objetivos, falta de tesão na vida, o tesão só aparece no sexo fugaz e miserável, sem romantismo, sem envolvimento, sem sentido, como instinto, que nem bicho...não importa mais a idade, o que importa é a quantidade.
Melhor mesmo é não pensar, não ler, porque quanto mais conscientes ficamos do que acontece a nossa volta, mais vontade dá de se alienar e não refletir mesmo, porque dói enxergar a falta de sentido das coisas e da vida, a falta de valores e o mais importante:a falta de amor.
O niilismo é vago em si mesmo, pois vem de nihil, que significa nada. A palavra niilismo, que poderia ser traduzida como “nadismo”, é a palavra que define a contemporaneidade.
Associar qualquer noção ao niilismo não é exatamente um elogio, mas algo como colocar ao seu lado uma placa dizendo: aqui não há nada — principalmente nada do que se acredita haver.
niilismo existencial, ou seja, a postura segundo a qual a existência, em si mesma, não tem qualquer fundamento, valor, sentido ou finalidade.
 Todas as ações, todos os sentimentos, todos os fatos são vazios em si mesmos, desprovidos de qualquer significado. Nessa ótica, viver é algo tão sem sentido quanto morrer, e estamos aqui pelo mesmo motivo que as pedras: nenhum.
Acredito que este termos nilismo seja forte e negativo, no entanto é exatamente isso o que parece acontecer e se desenvolver.
 Bastará que consigamos entender nós próprios como um fato, e o niilismo se tornará praticamente uma obviedade. Só então perceberemos que o niilismo não é, como a princípio pode parecer, uma postura extremada, envolvendo algum tipo de revolta, mas apenas uma visão honesta e sensata da realidade — uma visão tornada possível em grande parte devido às descobertas científicas modernas.
No entanto, quantos de nós lêem sobre filosofia?teorias sociológicas?psicológicas?
Nietzsche , como Goethe, resgata a antiga concepção do mundo regido pelo embate entre duas divindades, a saber: o espírito apolíneo – referente ao deus Apolo da mitologia grega, deus da luz e da consciência plena, contrapondo-se ao espírito dionisíaco – que remeta à figura de Dionísio, deus do vinho, dos prazeres e da volúpia.
O mais fashion é ver novela, BBB, sair pra balada, beber, fazer sexo e não pensar!!!Se pensar,de preferência, não sentir!!!
Sentir virou um risco.
O que importa são os rótulos que criamos para nós e sermos reconhecidos por eles.
A moça que colocou silicone, a menina que veste Chanel, Prada, CK...o médico, o engenheiro, o advogado...a chapinha, as luzes no cabelo, o carro importado...
Devemos sim aproveitar as facilidades do mundo moderno, mas não sermos escravos disso e abdicarmos da nossa existência.
Existência no sentido grandioso de apropriar-se do nosso destino, do que se quer ser e do que se escolhe ser, independente dos apelos, desejos dos outros ou realizações fúteis e superficiais.
Este texto não é para ser uma crítica de revolta ao mundo, mas que seja um veículo para se pensar na diferença entre quem realmente somos, o que queremos ser e o que estamos nos tornando...
A qual Deus eu sigo:Apolíneo ou Dionísio?
Como diria Nietzsche: "O verdadeiro poder é ser quem realmente se é."

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Fulaninho de tal

Lá vem as pessoas perguntando... Tu que és psicóloga, como explicarias...
Hahahahahahahahha!!!
Essas perguntas simples para respostas impossíveis é algo que venho confrontando nos últimos semestres do curso de psicologia, como se eu fosse um guru, que através do meu longo conhecimento acadêmico (cinco anos apenas, mais precisamente) fosse capaz de desvendar qualquer fato da psiqué humana.
Perguntas do tipo: fulano é de tal jeito, como a psicologia explica esse comportamento? Estou sentindo tal coisa, psicologicamente, o que devo fazer? Meu filho não me obedece, ele tem algum problema?...
Essas perguntas são formuladas como se fossem objetivas e tivessem uma resposta lógica e imediata.
Realmente, seria maravilhoso se pudéssemos ter algum esclarecimento sobre o mistério que é a nossa vida, a maneira de ser do outro, nossa maneira confusa -muitas vezes- de ser...
Como se houvesse uma explicação clara e precisa para que a resolução dos nossos problemas esteja no outro e não em nós, ou em alguma teoria bem alicerçada, que de preferência não nos desestabilize ou mexa com nossas emoções.
Aliás, as pessoas estão fazendo qualquer coisa para não sentirem. Um remedinho, por favor, doutor, que tire todo o meu sofrimento. Uma consulta de 10 min. na cartomante da esquina que vai ter as respostas que eu preciso sem eu fazer nadinha. Uma saída na balada e um sexo selvagem para disfarçar a minha dor de estar só.Uma terapia breve, quanto menos tempo e menos preço o psicólogo cobrar melhor, pois afinal de contas, as respostas estão nele e não em mim.

Funcionaria assim:

...Eu exponho brevemente como o outro é; e você, psicólogo,como um "expert" no assunto das mentes humanas, só poderia concordar que fulano tem alguma patologia.
Na verdade, não importa se eu falo quem o fulano é ou como eu vejo o fulano, pois seria a mesma coisa.
Não importa se o fulano concorda com o que trago dele, não é levado em consideração como fulano se sente em relação a mim, minhas atitudes não influenciariam de forma alguma a decisão do outro e eu sou super "neutra" no meu questionamento...

Ou ainda...subjaz: eu não tenho nada a ver com isso, é apenas o outro que é péssimo professor e faz eu rodar nas provas (que não estudo), é meu namorado que não é honesto comigo (enquanto eu sou um ser perfeito e bem resolvido), é meu chefe que me paga aquém do meu merecido valor (enquanto eu mesmo não me valorizo), é minha família que não me entende (e eu não mexo uma palha para ter minha independência)...

É, parece que hoje em dia, talvez mais do que em qualquer tempo, atira-se toda a responsabilidade no fulaninho. Negamos, muitas vezes, a nossa humanidade, a capacidade de transformar quem somos, a possibilidade de colocarmos limites nas relações, de nos afastarmos de quem não nos faz bem ou de irmos atrás do que acreditamos e queremos , independente do outro.

Nos fechamos em um mundinho de projeções, que segundo a psicanálise e a grosso modo seria projetar no outro as minha necessidades, frustrações ou esperanças e nós ficamos de fora disso, é claro!
Ao invés de mudarmos a nós queremos encontrar defeitos ou formas de arrumar o outro a nossa vontade.
Sugiro, então, que percebamos qual a nossa parte de responsabilidade nas situações que enfrentamos e de que forma podemos mudar o nosso próprio mundo - e que deixemos o ciclano ser como quer e escolhe!!!

terça-feira, 12 de julho de 2011

O inconsciente

Descartes, no século XVIII, acreditava que o homem era um ser que podia pensar-se e perceber-se diretamente.   Os positivistas, do século XIX, priorizavam a razão e definiam o homem como um ser capaz de ter consciência de si, de dominar-se.
A teoria psicanalítica, que expandiu-se no século XX, não está em continuidade com as ciências anteriores, opera um corte epistemológico radical, pois através dela há impossibilidade de se pensar em termos de clareza e de verdade imediatamente percebida: o inconsciente obriga qualquer sujeito a “desconhecer-se” (Lacan), na medida em que o inconsciente é, precisamente, aquilo que escapa a uma consciência clara de si.
A psicanálise renova a velha questão filosófica das relações entre a alma e corpo e distingue, no psiquismo, os fenômenos de consciência de os do inconsciente. Segundo Freud, existem forças irracionais que retiram, de certa forma, a autonomia do homem de ser e agir conforme sua vontade.
Esse novo conceito atacou diretamente o narcisismo dos teóricos que se sentiam grandiosos pela possibilidade de serem autosuficientes em função de sua superioridade intelectual.
O ser humano, de acordo com essa teoria, possui uma parte da mente que é desgovernada e composta por instintos, desejos e emoções que o escravizam.
Se pensarmos que muitas vezes decidimos que vamos fazer determinadas coisas, como um regime, por exemplo: Vou começar na segunda-feira! Procuramos sites na internet com as calorias quantificadas e a dieta mais adequada, entramos para academia, tudo pronto.  O que é essa coisa que surge dentro de nós que nos faz mudar de idéia, que nos faz comer sem fome, que não nos deixa parar de comer  depois que começamos(quando o que queremos é parar) ou que nos impede de fazer  tal exercício físico que nos propomos?
Quando começamos um relacionamento e nos apaixonamos, vemos tudo colorido, pensamos na pessoa 24h.... E... com o passar do tempo, percebemos que aquela pessoa era legal, mas não é “aquela pessoa”. Decidimos que não queremos mais, mas não podemos acreditar que tudo acabou, quando tudo evidencia que chegou. O que é essa coisa que surge dentro de nós que não nos deixa enfrentar a realidade e que não nos permite colocar um ponto final ?
Outro exemplo clássico é em relação aos nossos pais. Têm coisas neles que simplesmente não suportamos, temos até uma teoria pronta para criticá-los. Mas, inesperadamente, estamos agindo igualzinho! E pior ainda, nem nos damos conta! O que é essa coisa que surge dentro de nós que nos faz repetir, que nos faz agir exatamente da forma como achamos inaceitável, que nos faz ser aquilo que tanto evitamos e criticamos?
Nada como exemplos, que toquem as nossas emoções, para que possamos compreender uma teoria, um conceito. Para que realmente possamos introjetá-los, precisamos sentí-los. “Na metodologia freudiana, a exigência de teorização só é legítima se remeter para a experiência singular e autêntica de uma história pessoal, analisada sob o ângulo de um vivido, de um sentido, de um experimentado, ou seja, sob o ângulo de uma subjetividade em luta com o inconsciente. “
Não é fácil acreditar na teoria do inconsciente, que nos aproxima dos animais com seus atos instintivos, que nos mostra a desapropriação de nós. Por outro lado, seguir na arrogância de que tudo podemos e sabemos sobre nossa mente, é negar a possibilidade de enxergar além, além das barreiras do consciente.
Abrindo- nos à experiência da análise ou da terapia psicanalítica somos convidados a viajar pelos mistérios e desrazões que nos movem e nos impulsionam na vida e isso só  pode ser visto através do olhar do outro.
A psicanálise, dessa forma, traz o conceito de alteridade (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alteridade) como um fator imprescindível na busca pelo autoconhecimento.
E nós? Como agimos em relação aos novos conceitos que tomamos consciência? Prefirimos desconhecer nosso inconsciente e seguir tendo uma vida dominada pelo que não escolhemos para nós?

domingo, 10 de julho de 2011

Tolstoy: A última estação

Ontem comecei a assistir o filme The Last Station, baseado no roteiro de Jay Parini e dirigido por Michael Hoffman. Na medida em  que o filme acontecia, fui observando atentamente o personagem de Helen Mirren, que representa a esposa de Tolstoy. Um personagem do tipo insuportável, daqueles que dá vontade de dizer: sai daí sua manipuladora! No entanto, remetendo-me à psicologia, lembrei-me imediatamente de que se há uma esposa "louca", existe também seu marido "não tão normal", que a complementa.
Percebemos a sociedade pregar: fulano trai a mulher, ciclana é uma esposa repressora, enfim, vários esteriótipos sobre um dos cônjuges, como se o outro fosse um santo, um injustiçado, que é obrigado a conviver com ele/ela, o que não é verdade. Enquanto pensava na personagem e em como ela interferia nas idéias do marido, no quanto ela se opunha aos seus grandiosos ideais teóricos, ficava evidente que por outro lado existe também uma mulher que tem direito de "existir" dentro da sua relação íntima com seu marido, seja ela como for. Enxergamos os fatos sempre como se houvesse uma vítima e um carrasco, um certo e um errado; devemos ficar muito atentos a que modelos protegemos, de que lado nos colocamos e por que defendemos um determinado papel, tanto nos filmes quanto na vida real.
Percebemos no filme que há um Tosltoy escritor, mas que desempenha outros papéis, de pai, marido, amigo e humano, que nem sempre segue suas próprias teorias.  Fica evidente o quanto a mulher é ambiciosa, manipuladora e dependente e ele um ser  admirado, visto como um mártir por seus seguidores, mas suas contrariedades não são lidas nos seus escritos. Me pergunto: quantas vezes as pessoas se envolvem nos relacionamentos alheios em nome da justiça, em nome de defender o "bonzinho" da história. É claro que não vamos permitir ou defender as agressões que as pessoas sofrem, mas perceber que existe uma trama que é formada pelos dois e que ambos são vítimas de suas próprias emoções descontroladas, pois não conseguem impor limites a si próprios e fazer as escolhas mais adequadas. Quando nos identificamos com Tolstoy é interessante refletir se nos identificamos mais com o nobre escritor contraditório que tem aparência de pobre coitado ou a sua esposa descontrolada que luta pelo que acredita e é autêntica (e muito, muito chata)?
Nos identificamos com o personagem que somos, que gostaríamos de ser ou o socialmente mais adequado?Conseguimos enxergar as pessoas e os atores de forma neutra?