quinta-feira, 6 de junho de 2013

D E S I N S P I R A R

Precisamos de inspiração
para escrever.
PARA SER.
para produzir.
PARA EXISTIR.

De onde ela vem?
Dos discursos
                     Discursos prontos?
Discursos aprendidos?
                                  Discursos que nos instigam
Onde encontro tais discursos?

Meses sem inspiração
Porque se não sou inspirada
Não tenho inspiração
Inspirada não sou

Inspiração
              Pessoas inspiram
              Pessoas desinspiram
O repetido desinspira
O esperado desinspira
                                 Viver sem pensar desinspira
                                 viver por viver

Desesperança

Desinspirar

Repetir

Fechar

Lentificar

Alienar

Dormir

Comer

Fugir

Não pensar

Viver

Tudo desinspira
                        O intelecto pelo intelecto
desinspira


A arte reascende acende aumenta possibilita abre inova sente

Boas vindas re-inspiração
Entre de volta
Saia mais não


                 


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Jung- If you can...


"A forma do mundo em que o homem nasceu já está dentro dele como imagem virtual ". (Carl Jung)

Há muitos anos atrás, quando fui na minha primeira psicóloga, a Lúcia, ela me disse: você, se fizer psicologia, vai gostar muito de Jung.
Eu não vi nada de Carl Gustav Jung em toda a faculdade, mas pensava que por ser muito complexo e por compreendê-lo sendo também um psicanalista, decidi estudar primeiro a base da psicanálise, para depois seguir adiante no que não fazia sentido algum para mim.
Minha colega, a Rose, sempre gostou de Jung e me dizia que eu iria gostar, mas eu simplesmente não entendia nada do que lia a respeito e tive, no máximo, algumas tentativas frustradas de folhear alguns livros, sem sucesso.
Após cinco anos tentando apreender o "básico" da psicanálise (que não é nada simples)cheguei a um impasse entre a toria e a prática e a partir de então, tenho estado aberta para enxergar outras perspectivas, que possam complementar a minha práxis.
Ao começar a estudar a teoria Freudiana, senti a necessidade de experimentar, na prática, como isso seria na minha vida e me tornaria mais eu mesma, acredito que há pouco, encerrei um ciclo com meu analista, o que me trouxe uma necessidade de buscar algo além.
Na hora de trabalhar com meus pacientes, eu como terapeuta, senti a necessidade de algo mais e assim, tenho conseguido, paulatinamente, entrar em contato com alguns conceitos do Jung, de forma mais abrangente, com a ajuda da minha amiga, que tem pós em teoria Junguiana e tem me recomendado alguns livros.
Das teorias que tenho visto,o que mais me chama atenção são as diferenças ideológicas dos dois terapeutas em relação à religião e a relação entre consciente- inconsciente.


" Segundo Freud, a religião é uma neurose obsessiva- uma enfermidade psicológica alimentada pela repressão sexual.Para Jung, a ausência, e não a presença, da religião que leva á neurose. " (Michael Palmer)



Não quero defender nenhuma religião, até porque no momento não tenho frequentado nenhuma, mas acredito sim, que a maioria da população tem uma crença religiosa e isso fala muito dessa pessoa, por isso tal característica não pode ser vista como uma patologia, mas como uma das infinitas formas do nosso inconsciente se manifestar e de existirmos no mundo.
A forma como a pessoa lida com o passado, que tipo de Deus ela concebe, como são os rituais com que ela se identifica, quais as fantasias ou teorias sobre o que há depois da morte, falam muito a nosso respeito, ao meu ver.
Não só em relação à religião, mas a todas as manifestações criativas da vida falam sobre quem somos e como nos relacionamos com as coisas ao nosso redor, que segundo Jung se manisfestam sobre forma de arquétipos.
O conceito do arquétipo, de Jung, está na tradição das Idéias Platônicas, presentes nas mentes dos deuses, e que servem como modelos para todas as entidades no reino humano.
As tendências herdadas, armazenadas dentro do inconsciente coletivo, são denominadas *arquétipos e consistem em determinantes inatos da vida mental, que levam indivíduo a comportar-se de modo semelhante aos ancestrais que enfrentaram situações similares. A experiência do arquétipo normalmente se concretiza na forma de emoções associadas aos acontecimentos importantes da vida, tais como o nascimento, a adolescência, o casamento e a morte, ou as reações diante de um perigo externo. Jung referia-se aos arquétipos como as "divindades" do inconsciente.
Quando Jung investigou as criações artísticas e místicas das civilizações antigas, descobriu símbolos de arquétipos comuns, mesmo entre culturas bem distantes no tempo e no espaço, sem nenhum indício de influência direta. Também descobriu o que pensou serem traços desses símbolos nos sonhos relatados pelos pacientes (Noll).
Além desse aspecto, a psicanálise mais ortodoxa, trabalha o tempo todo em torno do trauma original(na prática psicanalítica, pois relaciona os comportamentos inadaptativos do presente com bloqueios inconscientes do passado),o que de certa forma desconsidera um pouco nossa história de conquista pessoal, nosso potencial individual, nossa liberdade, nossa possibilidade de mudar,limitando-nos a seres reducionistas e destinados a sofrer.Somente um psicanalista poderia me libertar das minhas amarras inconscientes!?
Existem vários dogmas dentro da teoria Freudiana, dependendo da perspectiva de cada leitor e isso não seria também uma patologia da teoria, ou uma fragilidade do próprio Freud humano?
A psicologia social e a filosofia, num sentido amplo, demonstram que nosso contato com os outros e como esse contato pode nos transformar ao longo das experiências, o encontro com novos sentimentos e como nossas conquistas e metas atuais também falam sobre que me tornei e posso me tornar.
Na teoria de Sigmund Freud, em termos gerais, o foco está no próprio indivíduo e em como ele enxerga o mundo a partir dele mesmo, ele se mantém fixado em seus estágios anteriores, os quais não pode se desenvolver enquanto não entrar em contato com os conteúdos inconscientes que geraram a tal fixação. Não é explícito que ao entrar em contato com o outro e com novas experiências possa haver mudanças concretas e cognitivas que sejam fruto dele mesmo, pois estaria preso emocionalmente àqueles fatos, como se a partir daquele momento, não pudesse transformar-se mais.
Sartre afirma que o homem é absolutamente livre, além do fato de que se deve sempre agir com responsabilidade no exercício de tal liberdade. Suas opiniões sobre liberdade também aparecem surpreendente para aqueles que estão familiarizados com o fato de que ele defende uma filosofia monista e materialista. No entanto, Sartre resolve esta aparente contradição, argumentando que apesar de vivermos em um universo material em que o nosso destino pode ser pré-determinado, devemos sempre agir como se estivéssemos completamente livre. Ele enfatiza a atitude (fenomenológica existencial) que, como nos encontramos no mundo não há absolutamente nada que nos impeça de agir ou se comportar de qualquer maneira que achar apropriado para a nossa situação individual.
Sartre tem uma visão orientada para o futuro das pessoas e da consciência, como ele aponta que a consciência é sempre consciência de algo fora de si. Pode-se contrastar a visão cartesiana de que "Eu penso, logo existo", com Sartre "Eu acho que alguma coisa". Freud estava mais preocupado com o rastreamento de volta ao passado na tentativa de chegar às raízes (inconsciente) de ações do paciente. Alguém poderia argumentar que a técnica de Freud de livre associação também permitirá que o paciente se relacione seu passado ao seu presente e futuro. O analista certamente não iria parar o paciente quando discutisse o presente eo futuro (o presente e o futuro não são trabalhados diretamente na sessão). Mais uma vez, as suas respectivas técnicas poderiam produzir os mesmos resultados. Uma grande diferença é que o psicanalista existencial tentaria intervir de forma mais freqüente. Ele também poderia ser mais agressivo em sua tentativa de levar o paciente a aceitar a responsabilidade por suas ações (Van Deurzen-Smith).
Salienta também, que era necessário focar intensamente o sujeito individual. Ele argumenta que foi necessário estudar e tentar entender: "... O que é individual e muitas vezes até mesmo instantâneo. O método que serviu para um assunto não será necessariamente adequado a ser usado para outro assunto, ou para o mesmo assunto em um período posterior ".
A consciência da escolha de si mesmo é a relação concreta com a existência,com o projeto de si mesmo em sua totalidade e com o significado do existente. Com isto, pode-se dizer que, a escolha implica uma determinada interpretação do mundo e de si mesmo, uma interpretação marcada pela intencionalidade consciente do ser e fazer dos sujeitos.
Tais conceitos, na idéia marxista, por exemplo, compõem uma das fases do processo dialético que trata da questão da alienação, equivalente à inautenticidade nos pressupostos filosóficos existencialistas (Ferrater Mora). A inautenticidade é o ocultar-se, o auto-engano, o não se reconhecer, a impossibilidade do distanciamento e da utilização da liberdade para não ser alienação.


"A análise da condição humana aparece permeada pela busca da transcendentalidade da consciência, que só pode ocorrer desde o para-si como ser-para-outro" (Sartre). 

 
De acordo com Sérgio Pereira Alves, a individuação (um dos conceitos centrais de Jung) significa fazer-se indivíduo, o que para  mim, está muito próximo ao termo de sartre, quando usa " a escolha de si mesmo". Alcançar o máximo de sua individualidade, a qual podemos entender como a mais íntima e profunda expressão de nosso ser, com uma total compreensão, aceitação e permissão desta expressão. E ainda reconhecer a ação de um material inconsciente sobre o eu. Estas três atitudes citadas acima praticamente definem o termo de responsabilidade que deveríamos ter em relação ao nosso crescimento interno. Isto seria reconhecer-se tal como se é, por natureza, e não como se gostaria de ser. Individuar-se é ser um com o todo, consigo mesmo. É não existir lá, não existir divisões. É não existir o outro, é não ver o caminho fora de si mesmo. É ser um com o caminho. Só assim o caminho existirá sob os seus pés.
Citei  sartre e Jung, como comparação a Freud, pois percebo que há mais ênfase , em suas teorias e "prática", na capacidade inata de cada um, de ser um construtor mais ativo da sua realidade psíquica, dentro e fora do setting terapêutico, numa relação dinâmica - passado, presente, futuro- eu e os outros.
Em Freud, nos atemos às causas, em Jung nós nos deparamos com o aspecto prospectivo da individuação, de forma mais autônoma. Uma natureza intencional do dinamismo psíquico para a auto-realização, para o equilíbrio. Uma orientação mais voltada para fins ou propósitos do que causas.
A maioria dos cientistas mais radicais são reducionistas e pragmáticos e vivem com a ilusão de que obteram a verdade e têm a pretensão de que, ao darem significado e explicação às coisas, terão o poder sobre elas, mas existem fatos que simplesmente não temos respostas e o próprio Freud, ao trazer o conceito de inconsciente falava isso, do não-domínio da própria mente; e por que não dos fatos? Nunca vamos nos apropriar de tudo, não há cura para a mente, para o pensar, para o existir, pois a todo momento estamos em transformação.
Na autocrítica ao seu apolitismo, Sartre conduz seus escritos para a implicação da escolha como exercício da liberdade comprometida temporal, histórica e socialmente. Por isso, sua compreensão é de uma liberdade construída no âmago do exercício sócio-histórico, marcada pela intencionalidade de suas escolhas. Este entendimento é resgatado na noção de projeto, ou seja, da liberdade para o fazer (Gómez-Müller), justificando, assim, as raízes do estar-no mundo pela ação e pelo sentido comprometido da vida humana, engajada em suaspossibilidades de autenticidade.


"O passado é um fato puro, não modificável, que exerce uma função restritiva sobre a liberdade, porém seu sentido depende do meu futuro. Ao incorporar o passado ao projeto, este se converte em situação. São estas as referências manifestadas nas análises do passado, presente e futuro e sua estruturação no definir a vida humana pelos seus atos e fatos (Sartre)."


A psicologia- teórica e prática- deve ser ampla, como vasta é a imensidão da nossa mente, dos nossos pensamentos, do nosso querer consciente, do nosso fazer sem querer e do nosso existir, seja lá como for.
A vida, a mente e as emoções estão em constante processo de mudança, a trasformação está acontecendo a todo instante.


"Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai." (Heraclito de Éfeso)


Nesta nova jornada pela tentativa de ingressar um pouco além da mente humana, encorajo-me a entrar nos campos das incertezas de Jung.



"Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer."(Fernando Pessoa)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Torna-te mais!


Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça...

Mário Quintana

Hoje não estou inspirada, não porque me falte o que escrever, mas porque estou em um momento de reconstrução.
Quando eu era pequena me ensinaram que não se muda de idéia e tenho aprendido que a melhor coisa da vida é mudar de idéia, mudar quem se é, quando não está dando certo.
Se resolvemos mudar o caminho que estávamos seguindo é porque aquele caminho, daquela maneira, chegou ao fim.
Dá um alívio e uma dor quando algo chega ao fim. Temos alívio porque acabou e temos dor pela ausência do que tínhamos, que de alguma forma nos enchia.
Só que nesse saco de coisas que vamos colocando na nossa vida, muitas das coisas que carregamos e mantemos são só bugigangas.
Abrir-se para o novo é de certa forma, perder o que já se tem.
O fim não precisa ser uma término, pode ser um recomeço.
Um recomeço pode ser com as mesmas pessoas, mas também pode ser em um cenário novo, com novos atores.
Somos tão apegados e queremos que as coisas não mudem nunca mais e ficamos presos ao que não precisamos.
Ficamos presos a pessoas, a idéias, a um momento feliz do passado, a um comportamento que não nos acrescenta em nada...
Mudar de idéia, mudar de rumo é para aqueles que não se acodmodam e que se dominam, que escolhem, são livres.
Querer mais não é só para os insaciáveis, para os teimosos.
Quando somos pequenos, nossa família, nossos colegas, nossos amigos vão nos dizendo tudo que pensam e as pessoas que mais gostamos nos deixam marcas gravadas.
Acreditamos que elas são nossas, mas nem questionamos quando crescemos, se aquelas idéias e aquela maneira de ser fazem sentido para nós, elas apenas estão lá.
Existem pessoas que dizem:sou assim. Não vou mudar.(Como assim?Deveríamos mudar sempre sim!)
Começamos a trabalhar e aprendemos técnicas, passamos a usar as teorias na prática e não questionamos, não pensamos em mudar, em evoluir, mas em repetir.
Vamos a uma religião e nos encontramos, chega um ponto que estamos de novo tentando nos enquadrar, pois não vamos nunca nos adequar plenamente no ideal de um outro, fomos feitos para seguir nosso próprios.
Como se houvesse um lugar pré-definido para cada um e um limite para que a gente se expanda.
O limite é dado por nós!
Acreditamos que o que os outros inventam tem valor, mas que nossas potencialidades são restritas.
Nos tornamos máquinas, que repetem, que buscam fazer perfeitamente o que alguém inventou e que muitas vezes nem ouve mais o coração.
Foi descoberto que o coração é parecido com o cérebro, que também sente, pensa, o que todos nós sabíamos- porque dá um aperto nele quando está tudo doendo e porque ele explode batendo quando somos felizes.
No entanto, temos que conviver com conceitos limitados que não englobam a grandeza do que somos, pois pouco se sabe sobre nossa mente e nosso coração (afetivamente falando).
Se não é comprovado não tem valor, mesmo que eu sinta diferente.
Temos padrões mentais, coisas que já tomamos como nossa forma de pensar e usamos eles para todas as nossas decisões, como um local onde guardamos nosso valores, desejos e sonhos. Pode ser uma caixinha preta que guardamos há muito tempo num armário, bem no fundo.
Quando precisamos decidir algo, vamos lá e damos uma olhadinha nessa caixa.
Será que essa caixa ainda combina com quem somos hoje?
Será que o que guardamos na caixa nos faz bem?
Será que a caixinha preta está dando certo?
Fomos feitos para mudar, para pensar, mas será que muitas vezes não andamos como cavalos encilhados?

Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.

Miguel Torga

Se desestruturamos as questões mais centrais da nossa vida nos perdemos e precisamos começar tudo de novo, que complicado.
Pensar diferente, ser diferente, viver diferente, agir diferente.
Dar chance ao novo.
Tem momentos em que a vida nos cerca de todos os lados e alcançamos só dor, seja qual for a estrada que escolhemos.
Quando chega nesse ponto é porque essa trilha, esses pensamentos e essa forma de ser está errada.
Simplesmente é uma escolha errada.
Todas as escolhas são nossa responsabilidade.
Precisamos dar a volta, fazer o contorno, analisar tudo e pegar outra estrada.
Na vida, existem uma série de estradas que surgem a cada dia, a cada tempo, umas mais difíceis de chegar, outras mais longas de percorrer...
O caminho mais certo é voltar-se pra dentro.
Quando nos sentimos seguros podemos perceber que a segurança é o que está nos matando, pois a vida é cheia de incertezas, medos e recomeços, somos seres dinâmicos e quando negamos a impermnência das coisas com uma falsa sensação de controle, nos perdemos.

A cada nascer do sol há um novo começo e podemos escolher fazer tudo de outra maneira...



Você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada, fazendo tudo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a Pobre. Você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religioso. Mesmo. Você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. Que é isso? Tá substituindo a maconha por Jesusinho? Zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem.

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sem tesão não há solução - By Roberto Freire

Andava eu, há anos atrás, com um grupo de “pseudo-anarquistas”- chamo-os assim ,pois, por mais que se identificassem com a teoria política, na prática de suas vidas cotidianas obviamente estavam “corrompidos” pelo capitalismo- e ouvi uma menina falar: como diz Freire, “Sem tesão não há solução”. Esse título me marcou, nunca mais me esqueci dele, e em vários momentos da minha vida quando eu achava que faltava “tesão” em alguém ou algo, eu citava ou pensava nessa frase.
Na última feira do livro, aqui em Pelotas (ou Satolep, em homenagem ao poeta e músico Vitor Ramil), numa daquelas promoções de cinco reais, encontrei em um sebo o livro e na hora pensei: é agora!
Comecei a ler e estou achando o livro divertidíssimo. Uma porque adoro ler autores que se opõem ao que estudo (tanto à psicologia quanto à psicanálise), pois me permite pensar de forma mais abrangente, outra porque ele nos trata como animais biológicos, o que é interessante e verdadeiro, e por último (até onde li) porque fala sobre a liberdade e individualidade, termo muito utilizados pelos enamorados do anarquismo.
Ele, no meu entendimento, fala que o capitalismo vende as mercadorias com rótulos de felicidade, que a religião católica e judaica tem por trás um conteúdo patológico sadomasoquista, que a psicologia é a maior das neuroses existentes...
Mas o que mais me encantou foi o fato de que ele fala que o amor é o caminho mais popular com o qual se busca felicidade, compara-o a religiosidade, pois é ingênuo por um lado e fanático por outro e que ele também se mostra incompetente e impotente para realizar os sonhos de felicidade da maioria das pessoas.
Roberto Freire cita: “(...) o homem tenta sobreviver a qualquer custo, mesmo que não haja mais qualidade alguma e sentido nenhum em sua vida. Julgo que isso só possa ser explicado pela louca e vã esperança que o ser humano alimenta em relação ao poder do amor.”
Mais adiante, traz o uso do amor como poder, pois pela chantagem amorosa, pela sedução, podemos reprimir, castrar e até matar as pessoas, apenas com ameaças de retirada e com a perversão do nosso amor. Mas sempre será catastrófico, segundo ele, o resultado da utilização do poder político autoritário, pois este destruirá o próprio amor.
Essa concepção de amor como algo que pode não ser libertário, fez –me recordar dos textos do filósofo Eric Fromm, em “A arte de amar”, que traz: “O que a maioria dos de nossa cultura considera ser amável é, essencialmente, uma mistura de ser popular e possuir atração sexual’, diz que o homem busca amar para fugir da solidão e pelo medo da separação.
“O desejo de fusão interpessoal é o mais poderoso anseio do homem. É a paixão mais fundamental, é a força que conserva juntos a raça humana, clã, a família, a sociedade. O fracasso em realizá-la significa loucura ou destruição – autodestruição ou destruição de outros” (Eric Fromm). O amor-fusão seria , para Fromm, uma forma enganosa de amar, uma ilusão, pois exclui toda a humanidade, contrário ao amor fraterno, que não exclui o amor dos outros.
"As pessoas, em sua maioria, ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas, quando na verdade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas." (Os quatro Vínculos - David E. Zimerman).
Freire, assim, fala sobre as ideologias que nascem das pessoas incapacitadas para qualquer tipo de ação livre e que já se submeteram a uma vida de incompetências e de impotência orgástica vital. Ele diz, então, que falta tesão na vida da maioria das pessoas( tesão, para ele, é significar hoje o que sentimos sensualizando juntos a beleza e a alegria em cada coisa com a qual entramos em contato e com a qual nos comunicamos) e fala que seus princípios básicos são: a necessidade de busca simultânea da liberdade individual e coletiva e o resgate da originalidade única das pessoas .
Quando ele encerra o capítulo 4 do livro, me dá um tesão de vir escrever sobre a autonomia dos seres, da liberdade de escolha e da riqueza em sermos o que somos e de acharmos sentido na nossa vida, motivo por que escolhi ser psicóloga e da minha frase do Nietzsche no meu convite de formatura -“O verdadeiro poder é ser o que realmente se é”.
Acredito que são textos assim que nos fazem refletir e reafirmar o desejo de sermos quem somos e não sermos levados pelo inconstante furacão inconsciente, que por tantas vezes, nos conduz por um caminho de carências e limitações dos nossos potencias.
Roberto Freire enfatiza que não podemos nos iludir, pois ninguém poderá fazer nascer alegria nos outros como não poderemos jamais sentir tesão por alguém que não seja capaz de produzir sua própria alegria e encerra com seu pensamento anarquista, que explica o modo pelo qual a liberdade individual, garantida por uma sociedade livre, pode satisfazer a necessidade biológica que temos da alegria, através da revelação da originalidade única.
“Viver nossa originalidade única deve ser, pois, a realização do tesão mais importante, aquilo que vai nos garantir o máximo de prazer, alegria e beleza, em qualquer instância ou circunstância vital. É ela também o que impediria a presença e a permanência em nós da dor provocada por coisas externas e contrárias à nossa natureza e vontade. A realização da originalidade única representaria, assim, a garantia para vivência plena tanto do nossos tesão quanto do nosso orgasmo genéticos fundamentais.”(Freire)


Ao utilizar os pensamentos de Fromm, Nietzsche e Freire procurei enfatizar a importância de cada um encontrar o tesão na sua própria existência, apesar (até mesmo) dos nossos amores, para que possamos identificar quando estes nos fazem mais livres ou nos escravizam, ao deixamos de ser quem somos.

Eyes to see


He that has eyes to see and ears to hear may convince himself that no mortal can keep a secret. If his lips are silent, he chatters with his fingertips; betrayal oozes out of him at every pore.

SIGMUND FREUD, Dora: An Analysis of a Case of Hysteria


(Freud's drawing by Salvador Dali)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (Melhor filme do mundo)



O filme conta a história de Amélie, uma menina que cresceu isolada das outras crianças. Isso porque seu pai achava que Amélie possuia uma anomalia no coração, já que este batia muito rápido durante os exames mensais que o pai fazia na menina. Na verdade, Amélie ficava nervosa com este raro contato físico com o pai. Por isso, e somente por isso, seu coração batia mais rápido que o normal. Seus pais, então, privaram Amélie de frequentar escola e ter contato com outras crianças. Sua mãe, que era professora, foi quem a alfabetizou até falecer quando Amélie ainda era menina. Sua infância solitária e a morte prematura de sua mãe influenciaram fortemente o desenvolvimento de Amélie e a forma como ela se relacionava com as pessoas e com o mundo depois de adulta.
Após sua maioridade, mudou-se do subúrbio para o bairro parisiense de Montmartre, onde começou a trabalhar como garçonete. Certo dia, encontra no banheiro de seu apartamento uma caixinha com brinquedos e figurinhas pertencentes ao antigo morador do apartamento. Decide procurá-lo e entregar o pertence ao seu dono, Dominique, anonimamente. Ao notar que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto, a moça fica impressionada e remodela sua visão do mundo.
A partir de então, Amélie se engaja na realização de pequenos gestos a fim de ajudar e tornar mais felizes as pessoas ao seu redor. Ela ganha aí um novo sentido para sua existência. Em uma destas pequenas grandes ações ela encontra um homem por quem se apaixona à primeira vista. E então seu destino muda para sempre.
Como descrito acima, esse filme fala de pequenos gestos que fazem a vida muito mais colorida e com sentido e que ele nos inspire a termos existências mais plenas de momentos de sensibilidade e de arte, além das cenas mágicas e surreais, a trilha sonora que é maaaaaravilhosa e profunda. Sério, o melhor filme que eu já vi!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A mesma mente que se abre por um lado, mantém-se fechada por outro...

Já dizia Eistein: "A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original." Pode ser que não volte ao tamanho original, mas muitas pessoas não conseguem enxergar além. Da mesma forma que o livros abrem a mente, se a leitura for sempre em cima do mesmo autor, a pessoa fica cega para outras perspectivas e novos olhares sobre um determinado assunto.
Enxergo seres muito intelectualmente desenvolvidos, aliás, eu era uma fã de grandes intelectuais, até que aprendi que o intelecto desprovido de emoção é sem graça e vazio. Algumas pessoas estudam, estudam, estudam e só enxergam o que estudam, reproduzem as teorias como um computador, com uma velocidade voraz, dominam uma área: no entanto, não conseguem se distanciar por um momento sequer da segurança do que decoraram ou acreditam, como máquinas.
Não podem ser questionadas, criticadas e a qualquer oposição tornam-se agressivas e menosprezam o outro e suas idéias.
Há bastante tempo venho lendo Freud,tentando ler sua teoria complexa, instigante e profunda. Venho estudando, fazendo análise para vivenciar a teoria e me manter de alguma forma sempre conectada ao meio psicanalítico. Por outro lado, busco ler os críticos de Freud, ou melhor, da teoria do Freud. Gosto da psicanálise, mas sei que existe a esquizoanálise com outro olhar. Gosto do Freud, mas sei que existe Jung, que também tem outra visão.
Na filosofia, existem teorias e a partir delas, existem teorias opostas, que permitem a expansão do pensamento, da criticidade e da possibilidade desse pensamento ser construído e reconstruído, numa dialática permanente.
No entanto, na maioria dos meios psicanalíticos que encontro, parece que há uma estagnação do pensamento freudiano. O mais interessante é que sou a fã número um do Freud, mas não preciso ser uma fã cega e que não consegue criticar, mesmo que seja para compreender de forma mais profunda, posteriormente.
Usa-se uma teoria que fala de bloqueios, da incapacidade de ver o outro e que traz conceitos de que o indivíduo, busca na terapia, ser cada vez mais ele mesmo. Mas o que vejo é exatamente o contrário: qualquer comentário que se afaste da comodidade dos conceitos teóricos assusta e traz à tona defesas e negações impressionantes. Dependendo de quem apresenta o assunto, questionamentos podem ser imperdoáveis e desagradáveis, participa-se mas é preciso cuidar com o que se fala.
Entra-se em um novo curso, os mais estudiosos parecem que fazem questão de mostrar o quanto sabem da teoria e os novatos que se fiquem atentos, pois qualquer comentário infeliz pode ser fatal.
Na busca de novos teóricos pós- freudianos, qualquer comparação com o "mestre" é vista como uma afronta e é acompanhada de defesas ferrenhas acima da teoria clássica, como se no entendimento teórico estivesse garantida toda a aquisição de sensibilidade e emoção que subjaz a psicanálise. Torno a pensar na importância do silêncio e seus benefícios, mas de alguma forma preciso compartilhar. Afinal, como ele dzia: "Nenhum homem é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos" . Sigmund Freud
Lendo Bion, que é de origem indiana, fiquei pensando na influência da sua descendência e na abrangência do pensamento oriental ,ao enxergar o mundo de uma forma mais ampla , em que não há tantos conceitos fechados ou definições estanques, além de privilegiar o momento presente. Além das relações com algarismos que ele estabeleceu para o aparelho psíquico...
Acredito que, quando estudamos determinada área, podemos sim, ir acrescentando conhecimentos novos- sem ter que descartar os anteriores, como se tudo tivesse sempre que ser uma antítese e não um complemento- que vai formar um todo maior e com mais sentido.
Enfim, venho dividir meu pensamento com meus amigos, para que eu mesmo não me torne uma bitolada e que possa ter coragem de confrontar minhas crenças e, se possível, transcendê-las..