terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sem tesão não há solução - By Roberto Freire

Andava eu, há anos atrás, com um grupo de “pseudo-anarquistas”- chamo-os assim ,pois, por mais que se identificassem com a teoria política, na prática de suas vidas cotidianas obviamente estavam “corrompidos” pelo capitalismo- e ouvi uma menina falar: como diz Freire, “Sem tesão não há solução”. Esse título me marcou, nunca mais me esqueci dele, e em vários momentos da minha vida quando eu achava que faltava “tesão” em alguém ou algo, eu citava ou pensava nessa frase.
Na última feira do livro, aqui em Pelotas (ou Satolep, em homenagem ao poeta e músico Vitor Ramil), numa daquelas promoções de cinco reais, encontrei em um sebo o livro e na hora pensei: é agora!
Comecei a ler e estou achando o livro divertidíssimo. Uma porque adoro ler autores que se opõem ao que estudo (tanto à psicologia quanto à psicanálise), pois me permite pensar de forma mais abrangente, outra porque ele nos trata como animais biológicos, o que é interessante e verdadeiro, e por último (até onde li) porque fala sobre a liberdade e individualidade, termo muito utilizados pelos enamorados do anarquismo.
Ele, no meu entendimento, fala que o capitalismo vende as mercadorias com rótulos de felicidade, que a religião católica e judaica tem por trás um conteúdo patológico sadomasoquista, que a psicologia é a maior das neuroses existentes...
Mas o que mais me encantou foi o fato de que ele fala que o amor é o caminho mais popular com o qual se busca felicidade, compara-o a religiosidade, pois é ingênuo por um lado e fanático por outro e que ele também se mostra incompetente e impotente para realizar os sonhos de felicidade da maioria das pessoas.
Roberto Freire cita: “(...) o homem tenta sobreviver a qualquer custo, mesmo que não haja mais qualidade alguma e sentido nenhum em sua vida. Julgo que isso só possa ser explicado pela louca e vã esperança que o ser humano alimenta em relação ao poder do amor.”
Mais adiante, traz o uso do amor como poder, pois pela chantagem amorosa, pela sedução, podemos reprimir, castrar e até matar as pessoas, apenas com ameaças de retirada e com a perversão do nosso amor. Mas sempre será catastrófico, segundo ele, o resultado da utilização do poder político autoritário, pois este destruirá o próprio amor.
Essa concepção de amor como algo que pode não ser libertário, fez –me recordar dos textos do filósofo Eric Fromm, em “A arte de amar”, que traz: “O que a maioria dos de nossa cultura considera ser amável é, essencialmente, uma mistura de ser popular e possuir atração sexual’, diz que o homem busca amar para fugir da solidão e pelo medo da separação.
“O desejo de fusão interpessoal é o mais poderoso anseio do homem. É a paixão mais fundamental, é a força que conserva juntos a raça humana, clã, a família, a sociedade. O fracasso em realizá-la significa loucura ou destruição – autodestruição ou destruição de outros” (Eric Fromm). O amor-fusão seria , para Fromm, uma forma enganosa de amar, uma ilusão, pois exclui toda a humanidade, contrário ao amor fraterno, que não exclui o amor dos outros.
"As pessoas, em sua maioria, ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas, quando na verdade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas." (Os quatro Vínculos - David E. Zimerman).
Freire, assim, fala sobre as ideologias que nascem das pessoas incapacitadas para qualquer tipo de ação livre e que já se submeteram a uma vida de incompetências e de impotência orgástica vital. Ele diz, então, que falta tesão na vida da maioria das pessoas( tesão, para ele, é significar hoje o que sentimos sensualizando juntos a beleza e a alegria em cada coisa com a qual entramos em contato e com a qual nos comunicamos) e fala que seus princípios básicos são: a necessidade de busca simultânea da liberdade individual e coletiva e o resgate da originalidade única das pessoas .
Quando ele encerra o capítulo 4 do livro, me dá um tesão de vir escrever sobre a autonomia dos seres, da liberdade de escolha e da riqueza em sermos o que somos e de acharmos sentido na nossa vida, motivo por que escolhi ser psicóloga e da minha frase do Nietzsche no meu convite de formatura -“O verdadeiro poder é ser o que realmente se é”.
Acredito que são textos assim que nos fazem refletir e reafirmar o desejo de sermos quem somos e não sermos levados pelo inconstante furacão inconsciente, que por tantas vezes, nos conduz por um caminho de carências e limitações dos nossos potencias.
Roberto Freire enfatiza que não podemos nos iludir, pois ninguém poderá fazer nascer alegria nos outros como não poderemos jamais sentir tesão por alguém que não seja capaz de produzir sua própria alegria e encerra com seu pensamento anarquista, que explica o modo pelo qual a liberdade individual, garantida por uma sociedade livre, pode satisfazer a necessidade biológica que temos da alegria, através da revelação da originalidade única.
“Viver nossa originalidade única deve ser, pois, a realização do tesão mais importante, aquilo que vai nos garantir o máximo de prazer, alegria e beleza, em qualquer instância ou circunstância vital. É ela também o que impediria a presença e a permanência em nós da dor provocada por coisas externas e contrárias à nossa natureza e vontade. A realização da originalidade única representaria, assim, a garantia para vivência plena tanto do nossos tesão quanto do nosso orgasmo genéticos fundamentais.”(Freire)


Ao utilizar os pensamentos de Fromm, Nietzsche e Freire procurei enfatizar a importância de cada um encontrar o tesão na sua própria existência, apesar (até mesmo) dos nossos amores, para que possamos identificar quando estes nos fazem mais livres ou nos escravizam, ao deixamos de ser quem somos.

Eyes to see


He that has eyes to see and ears to hear may convince himself that no mortal can keep a secret. If his lips are silent, he chatters with his fingertips; betrayal oozes out of him at every pore.

SIGMUND FREUD, Dora: An Analysis of a Case of Hysteria


(Freud's drawing by Salvador Dali)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (Melhor filme do mundo)



O filme conta a história de Amélie, uma menina que cresceu isolada das outras crianças. Isso porque seu pai achava que Amélie possuia uma anomalia no coração, já que este batia muito rápido durante os exames mensais que o pai fazia na menina. Na verdade, Amélie ficava nervosa com este raro contato físico com o pai. Por isso, e somente por isso, seu coração batia mais rápido que o normal. Seus pais, então, privaram Amélie de frequentar escola e ter contato com outras crianças. Sua mãe, que era professora, foi quem a alfabetizou até falecer quando Amélie ainda era menina. Sua infância solitária e a morte prematura de sua mãe influenciaram fortemente o desenvolvimento de Amélie e a forma como ela se relacionava com as pessoas e com o mundo depois de adulta.
Após sua maioridade, mudou-se do subúrbio para o bairro parisiense de Montmartre, onde começou a trabalhar como garçonete. Certo dia, encontra no banheiro de seu apartamento uma caixinha com brinquedos e figurinhas pertencentes ao antigo morador do apartamento. Decide procurá-lo e entregar o pertence ao seu dono, Dominique, anonimamente. Ao notar que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto, a moça fica impressionada e remodela sua visão do mundo.
A partir de então, Amélie se engaja na realização de pequenos gestos a fim de ajudar e tornar mais felizes as pessoas ao seu redor. Ela ganha aí um novo sentido para sua existência. Em uma destas pequenas grandes ações ela encontra um homem por quem se apaixona à primeira vista. E então seu destino muda para sempre.
Como descrito acima, esse filme fala de pequenos gestos que fazem a vida muito mais colorida e com sentido e que ele nos inspire a termos existências mais plenas de momentos de sensibilidade e de arte, além das cenas mágicas e surreais, a trilha sonora que é maaaaaravilhosa e profunda. Sério, o melhor filme que eu já vi!