terça-feira, 12 de julho de 2011

O inconsciente

Descartes, no século XVIII, acreditava que o homem era um ser que podia pensar-se e perceber-se diretamente.   Os positivistas, do século XIX, priorizavam a razão e definiam o homem como um ser capaz de ter consciência de si, de dominar-se.
A teoria psicanalítica, que expandiu-se no século XX, não está em continuidade com as ciências anteriores, opera um corte epistemológico radical, pois através dela há impossibilidade de se pensar em termos de clareza e de verdade imediatamente percebida: o inconsciente obriga qualquer sujeito a “desconhecer-se” (Lacan), na medida em que o inconsciente é, precisamente, aquilo que escapa a uma consciência clara de si.
A psicanálise renova a velha questão filosófica das relações entre a alma e corpo e distingue, no psiquismo, os fenômenos de consciência de os do inconsciente. Segundo Freud, existem forças irracionais que retiram, de certa forma, a autonomia do homem de ser e agir conforme sua vontade.
Esse novo conceito atacou diretamente o narcisismo dos teóricos que se sentiam grandiosos pela possibilidade de serem autosuficientes em função de sua superioridade intelectual.
O ser humano, de acordo com essa teoria, possui uma parte da mente que é desgovernada e composta por instintos, desejos e emoções que o escravizam.
Se pensarmos que muitas vezes decidimos que vamos fazer determinadas coisas, como um regime, por exemplo: Vou começar na segunda-feira! Procuramos sites na internet com as calorias quantificadas e a dieta mais adequada, entramos para academia, tudo pronto.  O que é essa coisa que surge dentro de nós que nos faz mudar de idéia, que nos faz comer sem fome, que não nos deixa parar de comer  depois que começamos(quando o que queremos é parar) ou que nos impede de fazer  tal exercício físico que nos propomos?
Quando começamos um relacionamento e nos apaixonamos, vemos tudo colorido, pensamos na pessoa 24h.... E... com o passar do tempo, percebemos que aquela pessoa era legal, mas não é “aquela pessoa”. Decidimos que não queremos mais, mas não podemos acreditar que tudo acabou, quando tudo evidencia que chegou. O que é essa coisa que surge dentro de nós que não nos deixa enfrentar a realidade e que não nos permite colocar um ponto final ?
Outro exemplo clássico é em relação aos nossos pais. Têm coisas neles que simplesmente não suportamos, temos até uma teoria pronta para criticá-los. Mas, inesperadamente, estamos agindo igualzinho! E pior ainda, nem nos damos conta! O que é essa coisa que surge dentro de nós que nos faz repetir, que nos faz agir exatamente da forma como achamos inaceitável, que nos faz ser aquilo que tanto evitamos e criticamos?
Nada como exemplos, que toquem as nossas emoções, para que possamos compreender uma teoria, um conceito. Para que realmente possamos introjetá-los, precisamos sentí-los. “Na metodologia freudiana, a exigência de teorização só é legítima se remeter para a experiência singular e autêntica de uma história pessoal, analisada sob o ângulo de um vivido, de um sentido, de um experimentado, ou seja, sob o ângulo de uma subjetividade em luta com o inconsciente. “
Não é fácil acreditar na teoria do inconsciente, que nos aproxima dos animais com seus atos instintivos, que nos mostra a desapropriação de nós. Por outro lado, seguir na arrogância de que tudo podemos e sabemos sobre nossa mente, é negar a possibilidade de enxergar além, além das barreiras do consciente.
Abrindo- nos à experiência da análise ou da terapia psicanalítica somos convidados a viajar pelos mistérios e desrazões que nos movem e nos impulsionam na vida e isso só  pode ser visto através do olhar do outro.
A psicanálise, dessa forma, traz o conceito de alteridade (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alteridade) como um fator imprescindível na busca pelo autoconhecimento.
E nós? Como agimos em relação aos novos conceitos que tomamos consciência? Prefirimos desconhecer nosso inconsciente e seguir tendo uma vida dominada pelo que não escolhemos para nós?

2 comentários:

  1. Você quer dizer que o nosso inconsciente nos sabota?

    E não só a psicanálise, acredito ser importante todos os recursos que o ser humano possa utilizar para o seu autoconhecimento... pois é nos conhecendo é que podemos conhecer aos outros...

    Acho que no fim das contas trabalhamos, lutas pelas mesmas coisas Barbie... exatamente isso eu argumento no meu trabalho... só que no espaço do mundo do trabalho... do sistema econômico vigente... enfim, buscamos um MUNDO MAIS SAUDÁVEL EM TODOS OS SENTIDOS!!!

    Diga não a alienação!!!! E ao Descartes hehe que superespecializou o nosso mundo e fragmentou o ser humano em pedaços.

    A alienação consiste da relação dos trabalhadores com os produtos de seu trabalho e do próprio ato da produção, no qual o trabalho é o homem que se perdeu a si mesmo (MARX).

    Da relação do trabalho alienado com a propriedade privada também decorre que a emancipação da sociedade da propriedade privada, da servidão, assume a forma política de emancipação dos trabalhadores; não no sentido de só estar em jogo a emancipação destes, mas por essa emancipação abranger a de toda a humanidade (MARX).

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  2. MM, texto muito bom. Admite uma facilidade ao leitor, mesmo abrangendo conceitos da Psicologia. Ainda sou leigo, mas pelo que já li, posso concordar com teus escritos. Existe algo denominado inconsciente, que nos permite desvendar mistérios sobre nos mesmos. Uma antropologia do eu, mais além, que deriva de algo tão subjetivo, de um conceito abstrato, mas quantitativo e qualitativo; enfim, continue escrevendo, é um deleite for me.

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